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terça-feira, 28 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27359: As nossas geografias emocionais (59): Nhacobá, Cumbijã, "alò, alô, nha tera, Guiné, Guiné-Bissau" (Joaquim Costa / João Melo / Luís Graça) + "Guiné, Nha Tera" (2015) (cortesia de Binham e Joss Stone)



Vídeo (7' 39'') by João Reis Melo / You Tube

Guiné-Bissau > "Região de Tombali > Cumbijã  >Este vídeo gravado em 4 de maio de 2025 na tabanca de Cumbijã, foca o jogo de apresentação da nova equipa de futebol dos "Tigres de Cumbijã"  e a sua maravilhosa paisagem envolvente" (diz o João Reis Melo, ex-1º cabo cripto, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)...E eu acrescento: tem um maravilhoso tema musical, como fundo, "Guiné, nha tera".


1. Obrigado, João Reis Melo, grande "Tigre do Cumbijã".  Aquela terra "verde-rubra" (sem conotações saudosistas...) ficou-te no coração. A ti e a nós... Parabéns pelo vídeo, é uma ternura da tua parte...  E depois tem algo de extraterrestre: nunca tinha visto um jogo de futebol.... a partir do céu e com uma moldura de verde como essa. Um efeito f seantástico, tens muito talento para fazer vídeos e vejo qu estás bem equipado!

Mas deixa-me dizer-te que foi pena não teres identificado, no final do vídeo, na ficha técnica,  o autor e os intérpretes do tema que escolheste como música de fundo ...  Temos a obrigação de divulgar a música guineense,  ajudar os seus músicos e respeitar os seus direitos de autor. (Se fossem músicos europeus ou americanos, o You Tube já te tinha silenciado o vídeo; por isso estou também grato ao autor e intérpretes da música pelo seu contributo para este vídeo maravilhoso do João Reis Melo.)


Quis saber mais sobre o tema musical que escolheste para o teu vídeo. Confesso que a letra e a música "mexeram comigo", apanhei algumas frases em crioulo afrancesado, por parte da voz feminina... e fiquei rendido a essa belíssima e poderosa voz. Estava convencido que era de uma conhecida cantora da Costa do Marfim, a Moniquer Séka... Mas, não, o João Melo que também é uma"autoridade"  no que diz respeito  ao panorama atual da música da Guiné.Bissau, esclareceu-me sobre quem é que faz dupla com o Binham  (n. 1977) nesta belíssima canção que é a "Guiné nha Tera",  incluída no  álbum “Lifante Pupa” (2015) (à letra: Beijo do Elefante) do grande músico da Guiné-Bissau, jácom uma notável carreira internacionakl 

Cito, com agrado, o oportuna e pronto esclarecimento que ele me fez, logo que saiu este poste:

(...) "Cumpre-me informar que esta canção de autoria do Binham, que trás como sombra uma história de vida que daria com certeza um belo de um filme, nesta interpretação não está a fazer dupla com a Monique mas sim com a não menos e extraordinária Joss Stone !...

" Joss Stone, é uma artista e cantora Inglesa que eu muito admiro e que, na sua digressão mundial, que durou seis anos, em cada país que parava, tentava gravar com um artista representativo do país uma canção que fosse de autoria do próprio. Na Guiné-Bissau, encontrou-se com o Binham e, fizeram esta gravação junto ao Forte de Cacheu que ficou com um enquadramento espetacular!


"Tive ainda a oportunidade de, quando de uma das minhas visitas à Guiné-Bissau (2017 ou 2019),  me ter deparado com uma exposição no Centro Cultural Francês em Bissau totalmente dedicada a estre extraordinário Binham! 

"Existem muitos bons artistas que atualmente fazem músicas Guineenses que enchem a minha playlist e me acompanham no carro em viagens mais longas... Não somente amo aquela terra, como as suas gentes como as suas tradições e músicas!" (...)
 

  "Guiné Nha Tera", do cantor guineense Binhan (n. 1977).

“Guiné nha Terra” (feat. Joss Stone) 

É um tema de homenagem à Guiné-Bissau, que combina ritmos de kizomba/zouk com elementos tradicionais.

2. Binham é um cantor e compositor de temas intimistas mas também de intervenção social. Tem uma história de infància duríssima: com um ano, doente, foi considerado uma criança-irã e esteve condenado a morrer, por abandono nas margens do rio, por decisão paterna. Nasceu no Biombo, mas cresceu em Catió. 

O infanticídio ainda é um problema ( de saúde pública,  complexo, de etiologia multifactorial) na sociedade guineense, tal como o era na sociedade portuguesa até finais do séc. XIX.

(...) Binham (...) tem uma canção sobre o pai que nunca gravou na sua discografia: aquela em que conta como ele o quis matar quando ainda era bebé.

(...) Binham tinha um ano quando foi abandonado para ser levado pela maré porque, reza a tradição, algumas crianças são espíritos que têm que ser devolvidos à natureza.

A lei da Guiné-Bissau protege este costume e atenua a pena de quem matar bebés, seguindo a crença. Mas nem era preciso, porque as comunidades encobrem os casos logo à partida e nunca ninguém foi investigado ou julgado.

O pai de Binham encomendou a cerimónia ( ao curandeiro) porque o filho adoecia com frequência e estava a levar muito tempo para começar a andar, sinais de uma 'criança irã'.

Deficiência, convulsões e gémeos são outros motivos para abandonar bebés que são também 'bodes expiatórios' de 'coisas negativas', como 'a morte da mãe no parto', explica Filipa Gonçalves, 28 anos, psicóloga e coautora do estudo 'Crianças irã: uma violação dos direitos das crianças na Guiné-Bissau'.  "(...)

Fonte: Olhares sobre a Guiné-Bissau >2 de julho de 2028 >  História do músico guineense Binham Quimor


Letra:

Guiné Nha Terra (feat. Monique Seka)

Binhan (n. 1977), jovem cantor e compositor,
grande revelação dos últimos anos


Binhan:

Su bin na bai Guiné
Su bin na bai nha tera u ta leba nha inkumenda
Si kontra  bu bin na bin
Si  bu  bin na bin bu ta tisin nha rekadu

També
Nha rekadu, uu nha rekadu

Monique Seka:

Guiné-Bissau abo i nha tera, tera di mi
Guiné-Bissau abo i nha tera, tera di nha papes
Ma si Deus kiri Guiné lantau firma
Bu ka na fika sin mas na ba ta tchora
Nha tera di povos kansadu
Ma si Deus kiri Guiné bu na midjora

N' ka misti odjau na kansera
N' ka misti odjau na sufrimentu
N' ka misti odjau na kansera ô Guiné ô
Liberta bu fidjus, bu da amor

Amor, filisidadi, armonia pa bo Guiné
Amor, filisidadi, armonia pa tudu fidjus di Guiné

Ki guintis ku ka misti odjau sabi, ô Guiné
Ê na kansa kabesa só
Ninsi  bu misti bu ka pudi bida mas
Bu na sedu, Guineense te na dia ku muri
O Guiné-Bissau, o nha tera, o nha pubis uuu

Guiné-Bissau si Deus kiri bu na sai des kansera
Deus na lumia korson di bu fidjus
Fidjus ki toma reransa pa e rena pa sabura ten
Skola, lus, saudi, iagu pa i ka falta

Tcevi lile, tcevi a li le o
Afrika mamu bwe wolo ami pla o
Abla boku u mamo bin fle o
Afrika mamo bin fle o mabe

Alo alo nha tera
Guiné Guiné-Bissau
(Alo alo alo Guiné)
Alo alo nha tera
(N' misti odjau Guiné na sabi um dia)
Guiné Guiné-Bissau
(Bu povu na para kansa kurpu ê)
Alo alo nha tera
Guiné Guiné-Bissau

Alo alo alo Guiné
Alo alo alo Abidjan
Alo alo alo Guiné
Alo alo alo Douala

Alo alo nha tera
Guiné Guiné-Bissau

(Letra recolhida aqui, com a devida vénia)

Tradução do crioulo para português: LG + assistente de IA / ChatGPT

Binhan:


Se fores à Guiné,
se fores à minha terra, leva o meu pedido.
Se por acaso voltares,
quando voltares, traz-me resposta ao meu recado.

Também...
O meu recado, sim, o meu recado.

Monique Séka:


Guiné-Bissau, tu és a minha terra, a terra que é minha.
Guiné-Bissau, tu és a terra dos meus pais.
Mas se Deus quiser, a Guiné vai levantar-se firme.
Não vais ficar só a chorar.

A minha terra é de um povo cansado,
mas se Deus quiser, Guiné, vais melhorar.

Eu não quero ver-te na tristeza.
Eu não quero ver-te no sofrimento.
Eu não quero ver-te na tristeza, ó Guiné, ó!
Liberta os teus filhos, dá-lhes amor.

Amor, felicidade e harmonia para ti, Guiné.
Amor, felicidade e harmonia para todos os filhos da Guiné.

Quem não quer ver-te feliz, ó Guiné,
é porque está cansado, perdeu a esperança.
Mesmo que queiras, às vezes não consegues mais viver,
tens sede… o guineense luta até ao dia da morte.
Ó Guiné-Bissau, ó minha terra, ó meu povo, sim!

Guiné-Bissau, se Deus quiser, vais sair desta tristeza.
Deus há-de iluminar o coração dos teus filhos,
filhos que hão-de tomar consciência
para que o país volte a ter alegria.

Educação, luz, saúde, água — para que nada falte.

Ouvi, ouvi, ouvi bem!
África, minha mãe, chora comigo, por favor!
Fala alto, a mãe veio avisar,
África, a mãe veio avisar do mal.

Refrão final:


Alô, alô, minha terra!
Guiné, Guiné-Bissau!
(Alô, alô, alô, Guiné!)
Alô, alô, minha terra!
(Eu quero ver-te, Guiné, feliz um dia!)
Guiné, Guiné-Bissau!
(O teu povo não vai parar, mesmo cansado!)
Alô, alô, minha terra!
Guiné, Guiné-Bissau!

Alô, alô, alô Guiné!
Alô, alô, alô Abidjan!
Alô, alô, alô Guiné!
Alô, alô, alô Douala!

Alô, alô, minha terra,
Guiné, Guiné-Bissau!

Observação - A canção é uma mensagem de dor,  amor e  esperança pela Guiné-Bissau... Também uma oração para que o país supere o sofrimento e renasça. Binhan fala como filho da terra, e Monique Séka acrescenta uma dimensão pan-africana, chamando a “África mãe” a solidarizar-se com o povo guineense.


3. Nhacobá, o dia mais longo, Op Balanço Final (17-23 de maio de 1973): assalto e ocupação...Um notável poste do Joaquim Costa, que merece ser relido, meditado, comentado...

(...) Este era de facto um posto de “mala-posta", muito importante neste corredor de Guileje, onde os guerrilheiros descansavam e se alimentavam em trânsito para operações militares na região sul. Todo o arroz aqui apreendido dava para alimentar um exército durante vários dias.

O elevado número de moranças, os abrigos subterrâneos, bem camufladas na vegetação, a quantidade de arroz (as suas rações de combate), bem como a grande quantidade de tabaco e material de propaganda, era a confirmação de estarmos perante uma importante base do PAIGC no interior da Guiné. Esta ação foi em rude golpe na logística do PAIGC no abastecimento de parte da zona sul da região.(...)


Corredor de Guileje, corredor da morte, para as NT; carreiro do povo, estrada da liberdade, para o PAIGT... Cada um chamava-lhe o que lhe dava na real gana... Mas continua por fazer o "balanço final" dos combatentes que, de um lado e do outro,  lá tombaram... 

Para quê, afinal ?!, perguntas tu, pergunto eu, perguntamos nós, Joaquim, Luís, João...

Nhacobá, que pretendia ser um marco luminoso da "estrada da liberdade da Pátria", ponto fulcral do "carreiro do povo", base logística do PAIGC...hoje não existe mais. É apenas um ponto do mapa do Google, perdido na mancha verde do coberto florestal, nas proximidades do mítico Cantanhez...

 Nhacobá foi arrasada pelos "bulldozers" da engenharia militar... Por ordem de Spínola.  A população, resignadda, aceitou, ser "reordenada" em Cumbijá, em 1973/74... E lá está até hoje com a "autoestrada" do sul a atravessar a tabanca, que até já tem uma equipa de futebol, os "Tigres do Cumbijã", e um patrocinador, "tuga", o João dos Reis Melo, de Alquerubim...

Que diria o homem grande, Amílcar Cabral, agora curvado sob os seus 100 anos, se ainda fosse vivo ?! ... Contra quem iria brandir a bengala de ancião ?... Os grandes homens, e os líderes (e o Amílcar Cabral foi um deles), são tão incapazes de ler o futuro como qualquer um de nós, pessoas comuns.

Afinal, o povo quer é pão e circo...Ontem como hoje e amanhã... Os sucessores de Amílcar Cabral não perceberam isso, que ideologia(s) não enche(m) barriga(s). 
 ________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 24 de setembro de 2025 Guiné 61/74 - P27249: As nossas geografias emocionais (58): A Pousada do Saltinho ou "Clube de Caça", com ar de abandono, em maio de 2025 (João Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", Cumbijã, 1972/74)

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27249: As nossas geografias emocionais (58): A Pousada do Saltinho ou "Clube de Caça", com ar de abandono, em maio de 2025 (João Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", Cumbijã, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Antiga Pousada do Saltinho > Maio de 2025 > Quando por lá passou, há  4 meses, o João Reis deparou-se com este espetáculo deprimente... Ele era cliente desta unidade hoteleira desde que começou a ir à Guiné-Bissau, a partir de março de 2017. Encerrou, não se sabe porquê...



Foto nº  2> Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Maio de 2025 > : Rápidos do Saltinho, uma das sete maravilhas do país.


Foto nº 3 >Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho... Diz o Paulo Santigao que .este edifício, quando quartel, "albergava arrecadação de material de guerra ,enfermaria e gabinete médico, bar e messe de oficiais e sargentos,secretaria,gabinete do comandante"

(...) "Saltinho seria dos poucos locais da Guiné onde o terreno era rochoso,impossível existirem valas naquele quartel.Assim,foram construídos abrigos em betão que funcionavam como casernas.Os oficiais e sargentos dormiam num abrigo que ficava junto da porta de armas. Os abrigos não estavam enterrados,tinham "seteiras" voltadas para o exterior. Havia dois grupos de combate em destacamentos um em Cansonco e outro em Sinchã Mamadu Buco.

"Quando em Março de 72,regressei ao Saltinho,  ido de Bambadinca, encotrei um notável melhoramento...O comandante proveta, da CCAÇ 3490, tinha inaugurado uma messe/ bar para oficiais, apenas três... Exilei-me na outra margem do rio no reordenamento, hoje chamado de Sinchâ Sambel"  (..:)


Foto nº 4 >Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho, antigo bar e messe de oficiais.


Foto nº 5 > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 28 de março de 2019  > Pousada do Saltinho, antigo bar e messe de oficiais > Nas paredes inscrições de clientes, como o nosso camarada Silvério Lobo, de Matosinhos, que lá ficava todos os anos, até à pandemia... O João Melo, na foto, também lá deixou a sua assinatur, em 28/3/2019.


Foto nº 6 > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > "Boutique do Hotel" (inscrição na parede)


Foto nº 7  > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2019  > Pousadfa do Saktinho > Viosta sobre o início da Ponte e o rio Corubal


Foto nº 8 > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 26 de março de 2017  > Rápidos de Cusselinta


Foto nº 9 > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > Emblema  da CCAÇ 2701 (1970/72)...


Fotos  nº 10 e 11  > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > Emblemas  da CCAÇ 2406 (19689/70) e CCAÇ 3490 (1971/74)


Foto  nº 12  > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > Monumento aos mortos da  CCAÇ 2406, "Os Tigres do Saltinho" (1968/70) e do Pel Çacç Nat 53 (1966/74)


Foto nº 13  > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > Monumento aos mortos:

  • CCAÇ 2406 / BCAÇ  2852 (1968/70): fur mil at inf Manuel F. S. Paulino  | sold at inf António B. Ferreira | sold  at inf Camilo R. Paiva | sold at inf Nelson M. João | sold António Teixeira | sold at inf Fernando P. Sequeira | sold at ifn Fernando S. Azevedo | sold at inf  Amílcar A. Domimgues;
  • Pel Caç Nat 53 (1972/74):  1º cabo  Fernando A. Alves C (?)

Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Na sua última viagem à Guinau-Bissau, em maio deste ano, a caminho do Cumbijã, o João Melo passou pelo Saltinho e deixou, na página do seu Facebbok (quinta feira, 31 de juhio de 2025, 12:56) uma emotiva recordação da Pousada do Saltinho, que ele encontrou fechada e com ar de abandono (*). 

Este unidade hoteleira era local de paragem  obrigatória para quem visitava a Guiné-Bissau e ia a caminho do Sul, região de Tombali (Quebo, etc.) mas também de Quínara (Buba, etc.). Eu próprio estive lá em 1/3/2008, a caminho de Guileje, no âmbito do programa social do Simpósio Internacionald e Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008) (**) 


Recorde-se que o João Melo (ou João Reis de Melo) foi 1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74).  É profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha. Integra a Tabanca Grande desde 2009.

 
"Retalhos de uma passagem pela Guiné-Bissau" > Saltinho

por João Melo


Saltinho é, para quem foi militar e cumpriu o Serviço Militar Obrigatório na Guiné, um local onde existia um aquartelamento de militares portugueses que, além de patrulharem toda aquela área envolvente, faziam segurança à ponte General Craveiro Lopes (inaugurada no dia 8 de maio de 1955, pelo próprio, que era entáo preasidente da República),  e que une as margens do Rio Corubal entre as regiões de Bafatá, a norte, Quínara, a Oeste, e Tombali, a sul.

Saltinho, ou melhor os rápidos de Saltinho e Cusselinta, proporcionam uma paisagem de uma beleza invulgar e que são,  na verdade, várias piscinas naturais que se formam naturalmente no rio Corubal, com rápidos de rio que fazem minicascatas e zonas rochosas que formam piscinas naturais com uma temperatura muito convidativa e das quais já tive o privilégio de usufruir.

A zona onde fica a praia de Cusselinta, para além das piscinas naturais, tem uma belíssima praia de areia branca e muita tranquilidade que convida a que nos aventuremos num banho nessas águas,  caso se seja um nadador razoavelmente bom e sempre com companhia por perto.

Saltinho fica na Região de Bafatá e dista 175 Km da capital, Bissau. Mas o Saltinho, para todos aqueles antigos militares e amantes de caça que após a independência de 1974 para lá iam ou por lá passavam em visita aos locais onde estiveram em campanha, Saltinho era muito mais que isso! 

As antigas instalações militares que, entretanto, foram cuidadosamente mantidas e recuperadas para que servissem de apoio como “Pousada” aos caçadores que muito a solicitavam,  proporcionava também uma agradável paragem para uma boa refeição e descanso para posteriormente se seguir viagem. 

Fiz isso várias vezes e sempre com muito prazer. Existiu inclusive uma situação caricata – creio que em 2017 – quando seguia em mais uma jornada de “voluntarismo” para as Escolas de Cumbijã e a bordo do jipe do grande amigo Patrício Ribeiro. 

Estávamos sensivelmente a atravessar Matu du Cão, fiz um telefonema para a Pousada de Saltinho a avisar que tencionávamos almoçar lá e que poderiam contar com 6 pessoas. O diálogo, foi sensivelmente este:

– Bom dia! Estamos com intenção de aí ir almoçar. Pode ser?

 
– Está bem. E o que é que pretendem comer?

– O que é que poderá ser?

– Pode ser porco do mato. Serve?

– Certo. Pode ser.

Seguimos viagem já a “salivar”, a pensar nm o “banquete” que nos aguardaria. Como naquela altura as comunicações telefónicas estavam bem piores que hoje, pois eram poucos os locais onde se poderia ter rede telefónica, seguimos viagem e, quando estávamos a chegar a Bambadinca, o telefone toca e era da Pousada do Saltinho:

– Está? É que já tentámos ligar várias vezes, mas não deviam ter rede, e tínhamos que avisar de uma coisa…

– O quê?

–  É que mandámos o caçador para ir caçar um javali e ele não encontrou nenhum, mas abateu uma gazela. Podemos servir bifes de gazela???

– Claro que sim!...

Resumindo, foi uma gargalhada geral porque chegámos à conclusão de que o menu dependia muito mais da ocasião do que o pré-estabelecido!... O que foi ótimo!!! 

À chegada, lá estavam os deliciosos bifes de gazela,  acompanhados por arroz e batata frita. e, como “salada” umas belas travessas de mangos cortados às fatias. 

Para acompanhar,  e mediante a vontade de cada um, foram servidos (passe a publicidade) vinho branco verde Três Marias e umas cervejas Sagres geladinhas…

Mas… voltando à Pousada de Saltinho, quando lá passei em maio último, após várias tentativas de os contactar telefonicamente sem o conseguir, para avisar da nossa chegada, quando lá chegámos foi com muita tristeza que deparámos com as instalações abandonadas e já tomadas pelo mato!... 

Em resumo, aquele “oásis” com que podíamos contar, já foi tomado pela natureza e, com isso, nos privou de um apoio com que já contávamos.

Seria muito bom que aparecesse alguém com iniciativa hoteleira que pudesse reabrir aquele ícone do tirsmo da Guiné-Bissau que tanta falta nos faz…

Ficamos a aguardar por melhores dias… Seguem algumas fotos do “hoje” e do “ontem”…

(Revisão / fixação de texto, título: LG)


2. A Pousada do Saltinho - Caça e Pesca (também conhecida em 2008 como "Clube de Caça") pertence/pertencia a (ou é/era explorada por) uma empresa portuguesa, com sede em Loures, ACP - Artigos de Caça e Pesca Lda. O seu "site" já não está disponível (fomos recuperálo attarvésw do Arquivo.pt)


Não sabemos a história desta unidade hoteleira, que ocupou e recuperou as antigas instalações militares do Saltinho, e por onde passaram subunidades como a CCAÇ 2406, o Pel Caç Nat 53 (do nosso Paulo Salganho), a CCAÇ 2701, a CCAÇ 3490... 

Contactámos, hoje de manhã,  a empresa ACP - Artigos de Caça e Pesca, Lda. A resposta que nos foi  dada é que a gerência quer reabrir a Pousada do Saltinho lá para fevereiro de 2026...A pessoa com quem falei, confirmou que as instalações estar com um ar de abandono, ams o sequipamentios (ar condicionado, etc.) estão operacionais... Oxalá que sim.

No antigo "site", podia ler-se que "em 1997 a empresa foi constituída, dando seguimento ao que muitos já conheciam por Espingardaria de Loures, Loja de Comércio de Artigos de Caça, fundada por Fernando Caetano em 1981."







Pelo vi na sua página, a Pousada está aberta no tempo seco (entre 1 de fevereiro e 30 de junho). Reproduz-se abaixo o texto promocional (a título meramente informatrivo):


Entre 1 de Fevereiro e 30 de Junho venha caçar connosco!


A POUSADA DO SALTINHO, unidade Hoteleira situada a sul de Guiné Bissau a 50m do Rio Curbal (sic), onde se pode desfrutar de um ambiente calmo e paradisíaco, com Quedas de Água onde se pratica o Jakusi (sic) natural e se desfruta de uma paisagem deslumbrante com todos os atributos que caracterizam o Continente Africano.

Este complexo foi criado para que todas as expectativas dos nossos visitantes sejam correspondidas e o tempo passado na Pousada provoque o desejo de regressar.

Nesta Pousada contamos com habitações equipadas de casa de banho e ar condicionado, restaurante (com refeições típicas do País e típicas da cozinha portuguesa), Bar e esplanada com serviço de Bar.

Actividdes (Passeios e caçadas)

Passeio Fotográfico

Passeio fotográfico onde se poderá ver várias espécies de animais como os flamingos, piriquitos e muitas outras espécies em estado selvagem, sempre acompanhado de um fundo paisagístico fascinante. A cultura e o conhecimento de cada visitante é engradecido ao contactar com os Nativos e conhecer diferentes Etnias e formas de vida muito próprias.Pesca

Para os amantes da pesca, propomos jornadas de pesca tanto no Rio Curbal, como no Rio Grande de Buba e a mais fascinante oportunidade de pescar no Mar dos Bijagos onde se pode pescar entre outras espécies:
  • Lírios
  • Garopas
  • Barracudas
  • Espadartes
  • Pargos

Os transportes são assegurados em veículos todo-o-terreno e todos os grupos são livres de expôr as suas ideias relativamente à vontade de conhecer ou recordar, sendo devidamente acompanhados nas suas visitas.

Caça menor:

Propomo-nos a efectuar jornadas de caça memoráveis.
  • Rolas (diferentes tipos)
  • Chocas "Perdizes"
  • Pombos verdes

Caça Maior:

Caça maior de perseguição com guia qualificado que tem como principais presas:
  • Gazelas
  • Hienas
  • Fococheros
  • Porcos Espinhos
  • Cabras de Mato
  • Lebres
(Não há indicação de preços)

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 16 de agosto de 2025> Guiné 61/74 - P27123: As nossas geografias emocionais (57): EUA, Flórida, Key West: passei à porta do José Belo, meu camarada (António Graça de Abreu, Cascais)

domingo, 14 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27217: Facebook...ando (94): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte XI: Pescadores do rio Grande de Buba, ao amanhecer






Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > Maio de 2025 > "Ao amanhecer em Buba, registei a chegada de pescadores, vindos da sua labuta"


Foto (e legenda): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Na sua viagem, em maio passado, de Bissau a Cumbijã, no sul, na região de Tombali, o nosso grão-tabanqueiro João Melo, passou por várias das nossas geografias emocionais... E fotografou esses lugares (Bissau, Quinhamel, Bula, Susana, Cacheu, Bambadinca, Saltinho, Buba, Mampatá, Cumbijã...).

Temos procurado, com a sua autorização, fazer uma seleção das suas melhores imagens publicadas na página do seu Facebook. Ele tornou-se um grande conhecedor e um excelente cicerone da atual Guiné-Bissau. Esta foto que acima publicamos, é de uma grande beleza. É a (e)terna Guiné que conhecemos há 50/60 anos.

Recorde-se que o João Melo (ou João Reis de Melo) foi 1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74).  É profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha. Integra a Tabanca Grande desde 2009.

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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27202: Facebook...ando (93): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte X: Fortaleza da Amura, hoje Museu Militar da Luta de Libertação Nacional e sede do Quartel General das Forças Armadas da Guiné-Bissau.



Foto nº 1 > Bissau >  Fortaleza da Amura > Área envolvente dos mausoléus


Foto nº 2 > Bissau > Fortaleza da Amura > Parada do antigo QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné).. Dos lados esquerdo e direito, eram as famosas 4 Rep (Repartições)...


Foto nº 3 > Bissau > Fortaleza da Amura > Ao fundo, e sob os centenários poilões, os mausoléus dos heróis da liberdade da Pátria...


Foto nº 4 > Bissau > Fortaleza da Amura > Trecho de muralha exterior, um velho canhão e um poilão


Foto nº 5 > Bissau > Fortaleza da Amura > Mausoléu de Amílcar Cabral (1924-1973)


Foto nº 6 > Bissau > Fortaleza da Amura > Placa alusiva à inauguração, depois de reabilitada, da "nova" Fortaleza da Amura, sede atual  do EMGFA.


Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura >  Maio de 2025

Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




João Melo (ou João Reis de Melo), ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74):

(i) é profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha;

(ii) viaja regularmente, desde 2017, para a Guiné-Bissau, em "turismo de saudade e de solidariedade" (em que distribui material pelas escolas de Cumbijã, e apoia também, mais recentemente, o clube de futebol local);

(iii) regressou, há pouco mais de 3 meses,  da sua viagem deste ano de 2025;

(iv) tem página no Facebook (João Reis Melo);

(vi) tem mais de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue para o qual entrou em 1 de março de 2009.

1. Na sua viagem, em maio passado, de Bissau a Cumbijã, no sul, na região de Tombali, o nosso grão-tabanqueiro João Melo, passou por várias das nossas geografias emocionais... E fotografou esses lugares (Bissau, Quinhamel, Bula, Susana, Cacheu, Bambadinca, Saltinho, Buba, Mampatá, Cumbijã...).

Temos procurado, com a sua autorização, fazer uma seleção das suas melhores imagens. Ele tornou-se um grande conhecedor e um excelente cicerone da atual Guiné-Bissau.

Uma das visitas (demoradas) que fez,  foi  à Fortaleza de São José da Amura  


2. Excerto da página do Facebook do João Reis Melo, postagem de 18 de agosto de 2025, 13:14 (*):

"Retalhos de uma passagem pela Guiné.

Ainda, e sempre, a bela Fortaleza de São José de Amura em Bissau  (**). Hoje, Museu Militar da Luta de Libertação Nacional e também sede do Quartel General das Forças Armadas da Guiné-Bissau.

Esta minha última visita em Maio passado, ficou registada com mais de duas centenas de fotos e vídeos. 

Hoje, destaco a parte envolvente aos mausoléus que veneram os seus heróis nacionais da luta de libertação que têm como seu primeiro representante Amílcar Cabral."

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 7 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27098: Facebook...ando (92): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte IX: Praça Che Guevara (antiga Praça Honório Barreto)

 (**)  Sinopse da história da fortaleza da Amura:


(i) Origens e construção inicial

No final do século XVII, a presença francesa na Guine (hoje Guiné-Bissau)  intensificou-se com a Companhia do Senegal, especializada no tráfico de escravos. Face á ameaça, o capitão-mor do Cacheu, António de Barros Bezerra, informou o rei português, em 1687, sobre as pretensões francesas de erguer uma fortificação em Bissau. Com apoio local, conseguiu impedir esse avanço.

Em 1696, sob comando do capitão-mor José Pinheiro, começou-se a erguer uma fortificação portuguesa. O projeto encontrava-se em dificuldades, pelo que teve de negociar com o rei local para assegurar o terreno.

No entanto, após a não renovação do contrato da Companhia de Cabo Verde e Cacheu em 1703, a capitania foi abandonada em 1707 e a fortificação anterior acabou por ser foi destruída. 

(ii) Reconstruções e remodelações

A fortaleza atual foi reconstruída em novembro de 1753, baseada num projeto de Frei Manuel de Vinhais Sarmento. 

Posteriormente, em 1766, o Coronel Manuel Germano da Mota introduziu alterações no traçado.

Entre 1858 e 1860, houve novos reparos sob a liderança do capitão e engenheiro militar Januário Correia de Almeida .

No século XX, a partir da década de 1970, foi restaurada pelo arquiteto Luís Benavente; a estrutura que vemos hoje é fruto dessa intervenção.
 
(iii) Funções atuais e valor simbólico

A fortaleza possui planta quadrangular em estilo Vauban, com baluartes pentagonais e 38 aberturas para canhões.

 Internamente, albergava a Casa de Comando, quartéis e armazéns;  além disso, havia uma paliçada que ligava a fortaleza a um pequeno forte costeiro com duas peças de artilharia.

Após a independência, em 1974, a Fortaleza passou a ser sede das forças armadas guineenses. Acolhe, além disso,  o Museu Militar da Luta de Libertação Nacional e o Mausoléu de Amílcar Cabral.
 
Diversos heróis da independência nacional estão lá sepultados incluindo Amílcar Cabral (1975), Francisco Mendes, Osvaldo Vieira, Titina Silá, entre outros.

A DW também confirma que ali se encontram os restos mortais de nomes emblemáticos como Amílcar Cabral, Francisco Mendes, Osvaldo Vieira e Titina Silá.
  
(iv) Em resumo:
 
Ontem (ou seja, em termos históricos): a fortaleza foi edificada como defesa contra potências coloniais rivais (principalmente francesas), reconstruída várias vezes ao longo dos séculos XVIII a XX, desempenhando um papel militar e estratégico desde as origens da colonização portuguesa.

Hoje, já na Guiné-Bissau independente: a  fortificação está em boas condições e aberta ao público.
 
Serve como símbolo nacional tanto na preservação da memória militar quanto na homenagem aos fundadores da independência, através do museu e do mausoléu.

Além do caráter memorial, é uma ponte com o passado colonial português e um marco patrimonial a ser preservado.

Fontes: 
Ang |  commons.m.wikimedia.org | Deutsche Welle | TripGrab | Wikipedia (en) | Wikipedia (es) |  Wikipédia  (pt) | 

(Pesquisa: LG | Assistente de IA / ChatGPT)

(Revisão / fixação de texto: LG)

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27121: O segredo de... (51): Virgínio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAQÇ 1933 (Nova Lamego e Sáo Domingos, 1967/69), economista, consultor, gestorempresário: como perdi dois mil contos, em 1985 (c. de 46,5 mil euros, a preços de hoje), com o projeto




Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Dmingos, 1967 /69); economista, empresário, gestor, consultor de projetos; natural do Porto, vive em Vila do Conde; voltou à Guiné-Bissau, em viagem de negócios, em 1984/85 (*). 





Guiné-Bissau > Bissau > Cumeré > 5 de janeiro de 1985 > O Virgílio Teixeira (Vt)  junto a um complexo agroindustrial, inacabado e abandonado: tratava-se de uma fábrica de descasque de arroz... 

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  O Virgílio Teixeira já aqui nos contou como foi o seu regresso à Guiné-Bissau, no tempo de 'Nino' Vieira, em 1984 e 1985 (*)

 Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T999 – O regresso à Guiné em 20out84;
- 10 anos após a independência em 74set24
- 15 anos depois da minha saída em 4ago69;
- 17 anos depois da minha primeira chegada, em 21set67.

Do seu texto de 13 ou 14 páginas ficou por publicar a última parte. Mas o assunto volta agora à baila.

Em 1984/85 o Vt regressou à Guiné-Bissau, em duas viagens de negócios,  como consultor de um projeto de investimento, com financiamento estrangeiro, que acabou mal, devido à conjuntura interna. (Julgamos que o Vt se refere ao chamado "caso 17 de outubro de 1985", que acabou com o fuzilamento, entre outros, do destacado e brilhante dirigente, de origem balanta, Paulo Correia, membro do Governo, que geria a pasta da justica, e era vice-presidente do Conselho de Estado).

Como o Vt  nos disse em 2019: 

(...) "O final do projecto não foi muito feliz, e contém tanta coisa pessoal e que tenho de preservar. Acho que, no final de tudo, quase desgracei a minha vida, e já se passaram 35 longos anos, desde que iniciei esta loucura. 

Em todo o caso, é parte da vida de um camarada da Guiné, e julgo que tem interesse para quem quer perceber o curso que seguiu aquele novo país de língua portuguesa. "  (...) (***)


2. Comentário do Virgílio Teixeira ao poste P27098 (**):

A foto nº 2  onde está um Bar Baiano, colado a um prédio colonial cor tijolo, na porta 12, é o edifício onde tínhamos (a minha equipa de projectos),  em 1984 e 1985, a sede das nossas sociedades.

Era a casa de um homem branco, ou nem tanto, residente que depois também fazia parte do nosso eventual negócio.

Já a partir de 1985, começámos a utilizar as suas instalações, para albergar a malta, era eu, o técnico I...,  depois veio a mulher, o filho e a filha, naturais de Coimbra ou arredores.

Vivemos lá por duas vezes, parte em janeiro de 85 e no fim de tudo em junho 1985.

Nunca mais vi ninguém porque viemos embora (os sócios principais, o V.L.  incluído), todos deram os frosques, pois a resposta ao alegado golpe de Estado foi a matar a torto e a direito a mando de 'Nino' que  também era nosso sócio.

O I..., a mulher, o filho e a filha ficaram lá, pois já tinham avançado com a desmatação na zona de Bafatá, e havia uma sociedade com o meu nome, e outros, que não sei hoje o que se passou.

Como confidência, o I...,  que não tinha já nada aqui em Portugal, com a familia toda lá, ficou...

Nunca nos disse nada, e já éramos muitos, ele terá se aproveitado da sociedade, para levar por diante o seu projecto de vida.

Há aqui uma grande confusão , pois acho que ele teria algumas cartas na manga que nunca soubemos, eu pelo menos e o V. L.  com quem falei durante muitos anos.  A sociedade foi legalmente constituída, eu próprio fiz a minuta e tratei de toda a burocracia - e não era pouca - para para pôr aquilo a andar.

Ainda assinei com os outros um tipo de empréstimo de adiantamento, e cedência de máquinas e pessoal, e às tantas ainda sou devedor de alguma coisa ...

Vim a saber por outros capitalistas mais adiantados, que o sócio I... terá,  depois de nos virmos embora, feito uso  da própria filha 
como moeda de troca,  com alguns comandantes. (Não posso comprovar a veracidade deste facto, no mínimo insólito; o que um homem pode fazer por dinheiro!)

É verdade que todos nós nunca mais contactámos com ele, e a morada era Rua Eduardo Mondlane, nº 12 Bissau, à saída para o aeroporto. 

Não confirmo nada disto, sei é que perdi do meu dinheiro,  2 mil contos, sem nada receber. Era um risco calculado, devido aos diferenciais de ofertas e orçamentos, tratados maioritariamente pelo I..., porque ele é que sabia da matéria de plantação de arroz em sequeiro. (LG: 2 mil contos em 1985 equivalem, a preços de hoje, a 46,5 mil euros)

A parte industrial do projecto era uma empresa alemã de reputação, que iria dar seguimento ao descasque, branqueamento, embalagem e exportação do arroz, tudo com o aval do nosso Banco de Portugal e da Guiné-Bissau.

Mas toda esta história, que era comandada pela Guiné, com o aval dos cooperantes dos paises de Leste, que sempre colocaram reservas e pareceres desfavoráveis, para benefício de outros.

Foi uma grande experiência, onde se via já o poder a funcionar, a corrupção, os interesses, a política e a polícia.

Tive a preciosa ajuda, com pareceres, do Ministro das Finanças da Guiné, convivi na sua casa, ele que foi meu conterrâneo no Curso de Economia na Faculdade de Economia do Porto, e unha com carne com o V.L.  que era o tutor dos filhos no Porto.

Falo nisto com uma certa nostalgia, pois as coisas não correram bem, não por minha culpa (afinal, o cérebro do projecto económico e financeiro, que recebeu um louvor escrito do Banco de Portugal, e outro verbal do Ministro do Desenvolvimento Rural da República do Senegal, onde fomos lá para vender o projecto).

Tudo se projectou no abismo após o alegado atentado ao 'Nino' que, em resposta, mandou fuzilar uma série de malta da alta politica do Estado, onde se incluía um nome importante que era o ajudante de campo do 'Nino'. (***)

Luis, se puderes publica neste poste , com fotos de coisas que já não conheço, e outras que, como é obvio,  ainda reconheço.

 
Grande Abraço, Virgilio Teixeira


2. Comentário do editor LG:

(i) Em mail de segunda feira, 11/08/2025, 21:27, disse ao Vt:

Virgílio, a publicar, como me pedes, vou fazê-lo na série "O Segredo de..." (...)

Como envolve nomes de terceiros, e ainda vivos, temos de ser cautelosos... Tenho também que te proteger: tens o coração demasiado ao pé da boca... Já falaste em tempos desta história que pode parecer algo "mafiosa" para os leitores do blogue... mas que ficou incompleta. 

Talvez possas ser mais claro, conciso e preciso...Não tens que mencionar nomes, a não ser o teu e o do 'Nino' e pouco mais (dos outros que estão vivos, não tens a devida e competente autorização; como sabes, há a figura, jurídica, do "direito ao esquecimento", que é reconhecido na UE e na Internet)...

Quanto ao golpe de Estado do 'Nino' não estás a referir-te ao de 14 de novembro de 1980... (E depois houve a guerra civil de 1998/99;  pelas minhas contas, deve tratar-se do chamado caso "17 de outubro de 1985"; Paulo Correia acabou por ser a vítima inocente... )

Revê essa história e depois manda-me uma segunda versão... Pode vir a ser partilhada como um "segredo teu" (*), ligado à Guiné-Bissau...



(ii)  O Vt achou por bem não rever nada...Com a sua autorização, omitimos os nomes dos intervenientes. Aparecem aqui apenas em iniciais. Disse-nos ele:
  • sobre o V. L., direi apenas que era um amigo do meu pai; tinha faro para os negócios e ótimas relações com o poder em Bissau;
  • o resto do grupo incluía empresários e técnicos agrícolas de cultivo de arroz, fugitivos em 1975 de Angola, onde tinham grande peso;
  • o nosso projeto deu voltas por Portugal, Espanha, Alemanha, Guiné-Bissau e Senegal;
  • o resto vem no meu livro de memórias de 6 mil páginas, que nunca hei de publicar...
  • longa história, esta, a culminar com a minha assistência no Raly Dakar, quando lá estava em 15 e 16 de janeiro de 1985.

(Revisão / fixação de texto: LG)



(***) Vd. postes de;




(...) O nosso projecto transitou pelos serviços governamentais, sob a designação inventada por mim, de “AGRINÉ – Agricultura da Guiné, Lda.,“ e ocupava uma zona previsional de 7000 hectares de terreno [mais do que 7 mil campos de futebol...], já inscritos a nosso favor, e com mapa registado, na zona de Cabuca, nas margens do Rio Corubal, que eu tão bem já conhecia.

Bem, como um elevado montante de investimento nacional e internacional, eram 20 milhões de USD que ao câmbio daquela época, já tinha baixado de 200 para 180, dava em dinheiro português cerca de 3,5 milhões de contos.

Aquele valor a preços atuais com a inflação de mais de 30 anos, e com as mudanças de Escudos para Euros, significava algo como 70 milhões de euros!... [Em rigor, 3,5 milhões de contos, em 1985, dava qualquer coisa como 69,6 milhões de euros, a precos de hoje, usando o conversor de moeda da Pordata. ] E fosse o que fosse era sempre muito dinheiro, e da parte do Estado da Guiné significava pouco mais do que a cedência do terreno.

Andei um ano às voltas com este projecto, e para elaborar o estudo tive de me deslocar 2 vezes àquele país. A burocracia era tanta que quase dava para desistir, formámos a empresa local, arranjámos sócios locais – o próprio 'Nino' Vieira, presidente da república, também entrava através do sogro, e mais um brigadeiro local, ajudante de campo do 'Nino'... E cada viagem custava uma pequena fortuna, era arriscar muito. (...)


quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27118: A nossa guerra em números (32): A Administração Colonial (que, no caso da Guiné, foi completamente ultrapassada, para não dizer "cilindrada", pelas Forças Armadas)


Governador Manuel Sarmento Rodrigues (1945-1949) [ foto: cortesia da Revista Militar].


Também era carinhosamente conhecido com o "Mamadu" Rodrigues e havia uma tabanca chamada Sinchã Sarmento.  Capitão de fragata e depois almirante, Sarmento Rodrigues (Freixo de Espada à Cinta, 1899 - Lisboa, 1979) foi, a par do gen António Spínola, um dos melhores governadores que passou pela Guiné. Foi governador entre  abril de 1945 e janeiro de 1949, quis fazer daquele território atrasado uma "colónia-modelo" (então colónia portuguesa, parte do Império Colonial Português, e sem complexos, de natureza semântica e conceptual, e muito menos político-ideológica!),  Foi ele quem, por exemplo, em 1948, fez um primeiro esforço sério para grafar os topónimos (nomes geográficos) guineenses, através da Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948. Apostou na construção de infra-estruturas, mas também no desporto, educação e cultura. Reforçou a aliança com os muçulmanos. Foi também reformador da administração  ultramarina enquanto ministro do Governo de Salazar (1950/55).



Guiné-Bissau > Bissau > Maio de 2025 > O antigo edifício da administração civil


Fotos: © João Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



 Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição de São Domingos > Em primeiro plano, o cmdt do BCAÇ 1933 e o administrador cessante, cabo-verdiano.

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A administração colonial portuguesa no Estado Novo: como funcionava  ? quais eram  as principais categorias de funcionários ?


Durante o Estado Novo (1933-1974), a administração colonial / ultramarina portuguesa seguia uma lógica fortemente centralizada e hierárquica, refletindo a ideologia autoritária do regime de Salazar. 

A gestão das colónias (chamadas oficialmente “Províncias Ultramarinas” a partir de 1951, ao tempo do Ministro do Ultramar, o reformador Sarmento Rodrigues) era orientada, a mhares de quilómetros de distância, a partir de Lisboa, pelo Ministério das Colónias ( e depois do Ultramar) e executada localmente por um aparelho administrativo que espelhava a estrutura do Estado em Portugal. 

 O próprio Gabinete de Urbanização Colonial (1944-1951) (depois GUU - Gabinete de Urbanização Ultramarina)  funcionava, imagine-se!, em Lisboa, dependente do Ministério das Colónias (e depois do Ultramar): centralizava o planeamento e a execução de projetos de arquitetura e urbanismo nas então colónias portuguesas, com um foco particular nos territórios africanos.

(i) Três características fundamentais da administração colonial de então:
  • centralização em Lisboa: todas as grandes decisões políticas, económicas, financeiras e militares eram controladas pelo governo central;

  • governadores e chefes superiores: cada colónia tinha um Governador-Geral (nas maiores, como Angola e Moçambique) ou Governador (nas menores, como era o caso da Guiné), nomeado diretamente pelo Presidente da República sob proposta do Ministro do Ultramar;

  • aparelho administrativo rígido: a organização visava manter a ordem, cobrar impostos (incluindo o famigerado "imposto de palhota"),  gerir recursos,  garantir a presença cultural e linguística portuguesa, etc.


(ii) Principais categorias de funcionários:

(a) Governador-Geral  (Angola, Moçambique) / Governador (Guiné)
  • máxima autoridade na colónia;
  • competências políticas, militares e administrativas;
  • nomeação política, geralmente militares de carreira ou altos quadros civis.
(b) Secretário-Geral
  • no. 2  do governo colonial / eminência parda do governador
  • coordenava as direções e serviços administrativos.
(c) Administradores de Circunscrição / Concelho:
  • responsáveis por áreas administrativas menores (circunscrições: semelhantes a municípios: por exemplo na Guiné: Bissau, Bolama, Bafatá,  Teixeira Pinto,  Cacheu, Farim, Catió, etc.).
  • ligavam a população local ao governo colonial;
  • Manuel da Trindade Guerra Ribeiro, natural de Chaves, é a figura mais conhecida nos anos 60/70:   atuou como administrador colonial (administrador da circunscrição/concelho de Bafatá, nos anos 60) e, mais tarde, foi intendente,  exercendo funções durante o período do general Spínola, já no início dos anos 70.
(d) Chefes de Posto Administrativo:
  • autoridade em zonas rurais e remotas;
  • funções de polícia, cobrança de impostos,  mediação de conflitos, etc.:
  • por exemplo, a circunscrição (mais tarde, concelho de Bafatá, um vasto território da zona leste) em 1969 tinha os seguintes postos administrativos: Bambadinca, Contuboel, Xitole, Galomaro, Gã-Mamudo.
(e) Magistrados e funcionários judiciais:
  • juízes, escrivães, procuradores do Ministério Público.
  • aplicavam as leis portuguesas (adaptadas ao “indigenato” até 1961, e procurando  respeitar os usos e costumes jurídicos de cada etnia).
(f) Funcionários técnicos:
  • engenheiros, médicos, enfermeiros. professores, agrónomos, geógrafos, topógrafos, etc.
  • muitas vezes com estatuto especial de “funcionários ultramarinos”.

(g) Polícia e militares:


  • tropas coloniais, Polícia de Segurança Público (PSP), PIDE/DGS, no plano político;
  • polícia administrativa ("cipaios"):
  • garantiam a ordem e reprimiam revoltas .

Observ1 - É difícil (se não impossível)  fornecer um número exato e definitivo de funcionários da administração colonial portuguesa em Angola, Guiné e Moçambique em 1979.  As estatísticas da época muitas vezes agrupavam diferentes categorias de pessoas e trabalhadores, e os números variam entre as fontes.

Observ2 - Até 1961, vigorava o Estatuto do Indigenato, que criava uma divisão legal entre “indígenas” e “cidadãos portugueses”, com direitos, deveres e tratamento administrativo diferentes. A partir de 1961, houve uma crescente "militarização" da administração civil (muita acentuada, por exemplo, com o  gen Spínola na Guiné, entre 1968 e 1973).

A Administração Civil sofria de graves carências, em termos quantitativos e qualitativos, no que dizia respeito a recurso humanos e a meios técnicos e financeiros, sendo completamente ultrapassada (para não dizer "cilindrada") durante o consulado de Spínola.(**)

Segue-se um quadro esquemático e um gráfico com a hierarquia da administração colonial portuguesa no Estado Novo, permitindo visualizar melhor a sua estrutura.

  

Quadro esquemático da administração colonial portuguesa no Estado Novo:


Ministério do Ultramar (Lisboa) │ └── Governador-Geral (Angola / Moçambique) Governador (colónias menores) │ ├── Secretário-Geral │ ├── Direções de Serviços Centrais │ ├─ Finanças │ ├─ Obras Públicas │ ├─ Educação │ ├─ Saúde │ └─ Agricultura │ ├── Administradores de Circunscrição / Concelho │ ├─ Chefes de Posto (zonas rurais) │ │ └─ Autoridades tradicionais “reconhecidas” (sob controlo)
(régulos na Guiné e em Moçambique; sobas em Angola;
liurais em Timor) │ ├── Magistratura e Serviços Judiciais │ └── Forças de Segurança ├─ Polícia Colonial / PSP ├─ PIDE/DGS └─ Tropas coloniais (Exército e milícias locais)



Leitura rápida do esquema:
  • Topo → Lisboa decidia quase tudo.
  • Meio → Governadores geriam a colónia com um núcleo de secretários e diretores.
  • Base → Administradores, chefes de posto, polícia administrativa e forças policiais/militares garantiam o controlo direto sobre a população.
As autoridades locais  (sob o sistema do Indigenato até 1961) tinham funções subalternas, limitadas, subordinadas, em grande parte simbólicas: régulos (na Guiné e em Moçambique), sobas (erm Angola), liurais (em Timor).

A polícia administrativa, a par da PIDE, era particularmente odiosa.
 
Gráfico: a hierarquia da administração colonial




(Pesquisa: IA / ChatGPT / Gemini  + LG | Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:


(*) Último poste da série > 12 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27113: A nossa guerra em números (31): Angola e Moçambique: População europeia total: ~535 mil / 600 mil | Total geral de "retornados" (incluindo os restantes territórios): c. 500 mil / 520 mil pessoas

(**) Vd. postes de:

20 de novembro de 2018 > Guiiné 61/74 - P19213: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (59): os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações, brochura da Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológioco [ACAP], do QG / CCFAG - Parte I


21 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19214: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (60): os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações, brochura da Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica [ACAP], do QG / CCFAG - Parte II

(...) 1. Estando a Guiné sob a pressão de um estado de subversão que visa a conquista das populações por vários meios, entre os quais a luta armada; existindo um Quadro Administrativo [QA] com graves deficiências quantitativas e qualitativas e possuidor da falta de meios para realizar a manobra de contra-subversão em tempo útil e, ainda, por razões de controle e segurança, não é possível à Administração Civil encarar sozinha, de momento, o esforço que se pretende realizar.

Assim, porque possuidoras de vários meios, humanos, técnicos e de defesa, as Forças Armadas estão aptas a colaborar, com carácter temporário, com as estruturas administrativas na solução dos problemas sócio-económicos. Porque, também, os problemas de desenvolvimento social e económico constituem a manobra da contra-subversão que é preciso fazer rapidamente e pertence à missão das Forças Armadas [FA].

As FA são, pois, chamadas a participar temporariamente em funções que seriam da competência civil, se os quadros administrativos estivessem em condições de as desempenhar, e que lhes serão totalmente confiadas quando as condições o permitam. São funções de colaboração e reforço da orgânica...[ilegível].

2. (...) Os civis do Quadro Administrativo (QA) pensam e actuam de maneira diferente. E a diferença reside em dois pontos distintos: a estagnação e carências várias do próprio QA e no diferente carácter de obrigatoriedade de uns e outros.

As Forças Armadas são uma organização profundamente hierarquizada, com escalões de comando definidos, com leis e regulamentos mais rígidos e pormenorizados, prevalecendo um forte espírito de disciplina. Arreigados a conceitos burocráticos ultrapassados e morosos por natureza , regulados por leis mais vastas, com um carácter de disciplina menos acentuado e relativo momento a leis de carácter mais geral, os civis do QA têm um diferente comportamento face a situações que exigem a resolução adequada em tempo próprio. A base de toda a actuação entre militares e civis terá de basear-se na compreensão e na colaboração, já que ambos servem o objectivo comum. (...)