Mais duas mensagens enviadas ao director da revista
Visão, de protesto pelo teor do artigo "Portugal e o passado", do jornalista Luís Almeida Martins, desta feita por dois assinantes e leitores da revista, ambos antigos
Tigres do Cumbijã (CCAV 8351,
Cumbijã, 1972/74).
1. Mensagem, de 27 de Fevereiro último, de João Melo, ex- 1º Cabo Op Cripto, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74:
Exmo Sr Director da revista
Visão, Dr Pedro Camacho:
Propositadamente, deixei passar uns dias sobre as atoarda que o jornalista Luís Almeida Martins atirou para o ar, não me ofendendo só a mim – que isso, poderia eu bem suportar – mas sim ofendendo todos aqueles que obrigatoriamente ou não, por lá arriscaram as suas vidas. Mas muito em especial aqueles que o infortúnio ditou que deixassem por lá as suas jovens vidas, com o enterrar de sonhos por realizar e o sofrimento que familiares e amigos tiveram com as suas precoces ausências.
E posso-te garantir, Luis Martins (tomo a liberdade de te tratar por tu porque, segundo dizes, deves ser um “rapaz da minha idade”), que, como dizes que tiveste uma tal especialidade e actividade distinta de todos os outros e que foi por essa razão que não foste mobilizado (?!), fico para aqui a pensar que actividade seria essa mas, com certeza que não seria a de estudioso da guerra…
Eu não era directamente operacional mas posso dizer com orgulho que fui Operador de Cripto na CCAV 8351,
Os Tigres de Cumbijã, que foram superiormente comandados pelo Capitão Miliciano Vasco da Gama, que foi exactamente a primeira voz a levantar-se contra a definição de guerra que tentaste incutir para o público através do artigo ofensivo que subscreveste. Uma coisa te posso garantir: de todos os meus camaradas e amigos que tombaram na Guiné não houve nenhum que tivesse sido de acidente de viação!
Sou leitor assíduo da revista
Visão e assinante há vários anos e, só o meu “amor” à revista é que me trava de anular a sua assinatura. Tudo isto agravado pelo facto de saber que fazes parte do seu Gabinete Editorial no sector de Projectos Especiais. Que “rico” projecto, sim senhor !...
Vou acabar porque acho que até já me alonguei de mais. Mas vou ficar cá com a minha ideia que a tua idade não será essa !... Porque essas visões do que era a Guerra na Guiné mais parece vir de algum jovem muito menos informado e que só sabe de guerras discutidas na mesa do café.
Acho que o único “marciano” na história é o autor da mesma. Anota-me aí, conta comigo e… talvez já passe de “uma dúzia” de revoltados…
Assinante Visão nº 1911138,
João de Melo
2. Mensagens de 25 de Fevereiro último, do
Carlos Machado, que também pertenceu à CCAV 8351, Cumbijã
2.1. Caro camarada Graça:
Acompanho há algum tempo o desempenho deste blogue no que diz respeito ao contar da história da guerra colonial na Guiné. Fui um dos milhares de combatentes nesta ex-colónia, integrado na companhia do Vasco da Gama e sei avaliar o que passámos durante cerca de dois anos.
Foi com grande indignação que li na revista
Visão nº 833, da semana passada , um texto elaborado com pouca imaginação e com grande desconhecimento do que foi a guerra na Guiné. Quem por lá andou como tu, sabe que a guerrilha faz-se com luta quase corpo a corpo e não com aviões,
napalm e outras coisas mais que alguns escritores de fim de semana querem fazer crer. Pena é que este autor, com tanto conhecimento da guerra de África, não batido com as costas na Guiné em Guileje ou no Cumbijã em 73.
Com os meus votos de continuação de um grande serviço aos ex-combatentes
2.2. Caros senhores [da
Visão]:
Foi com grande desagrado e alguma revolta que acabei de ler na revista da semana passada nº 833, da qual sou assinante e leitor há muitos anos, um texto sobre a guerra colonial intitulado "Portugal e o Passado".
Eu estive na Guiné, numa comissão de serviço durante cerca de 24 meses, no mato profundo, permanentemente debaixo de guerra, numa guerrilha que provocou milhares de mortos e deficientes, para já não falar de traumatizados, travada quase corpo a corpo e não como o autor do artigo imagina, sim porque não passa de imaginação.
O autor mostra um profundo desconhecimento do que foi uma guerra destas, pois se o soubesse saberia que não se resolve com Napalm, nem com aviões, nem com minas, esta arma tão traiçoeira. Este tipo de afirmações foram durante muitos anos utilizadas pelos regimes antes do 25 de Abril, para justificar as guerras travadas em África, e o resultado foi o que conhecemos hoje. Só deixámos miséria.
Carlos Machado
3. Comentário do Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351:
Meu caro Tigre Machado,
Fez muito bem em ter escrito para a revista. Não perca tempo a responder-lhe, tanto mais que o jornalista, independentemente da forma como foi questionado, enviou a todos os camaradas a mesma resposta. O nosso chefe da Tabanca dar-lhe-á a resposta final em nome do nosso blogue. Vou dar conhecimento desta mensagem ao Comandante da Tabanca, Luís Graça.
Hoje telefonou-me o Tigre Azambuja Martins.
Um grande abraço,
Vasco da Gama
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste dsa série > 28 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3951: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (8): Diana Andringa, jornalista e cineasta